sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

do fogo

a mais bela igreja é a que arde
e o mais belo fogo é o das asas dos corvos
da imaginação
que nos libertam da luz bíblica que nos ofusca.
a regra mais inflexível é a que não se aplica
e o tempo só nos esgota porque não se volta atrás.
o caminho é de lava apesar de escuro
e quem não sente caminha descalço,
os loucos porém seguirão no dorso de cavalos alados
voando no ar de cinzas até ao mar onde repousam mortos
os lúcidos.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

alma

fechei na palma da mão uma concha
com o murmúrio do mar em ondas
de chamas.

beijou-me a face salgada o vento
enquanto da concha a todo o custo
tenta fugir a minha alma em fumo negro.

refém de um búzio na  mão fechada
dentro de uma espiral com cores de interferência.

é uma espécie de caranguejo-eremita em habitação indesejada.

lá fora, o mar e o céu. a liberdade além do mar, além do céu, além de tudo.
além das flores, do chão, do prado e do vulcão. lá fora, a liberdade, além da praia, do caixão,
além das pedras, das árvores, da fruta de verão.

lá fora, as cidades, e algumas crianças, escutam o sussurro do mar
que sou eu preso dentro de um búzio na minha mão.